PROPOSTA FOTOGRÁFICA SOBRE AS CONQUISTAS DE ABRIL

Em 1974 o 25 de Abril começou com uma música na rádio. O dia seguinte foi celebrado com imagens publicadas nos meios de comunicação. Depois houve lugar ao comentário político, ao debate e à reflexão. Liberdade na música, na imagem e na escrita, no enunciar dos valores da democracia e liberdade.

Na proposta fotográfica “Imagens em Liberdade” lançamos o desafio, através de chamada aberta, para a produção de 25 narrativas fotográficas a partir de 50 canções que refletem nas letras e música os direitos alcançados pela revolução – igualdade, liberdade, educação. O objectivo, no âmbito da produção narrativa produzida, é promover o debate nos dias de hoje para falar das conquistas de abril, onde a imagem pretende fazer uma reflexão sobre como as formas de comunicação ampliam a liberdade de expressão.

Sabendo nós que o 25 de Abril de 1974, usou uma música passada na rádio, como senha para o início das operações que culminaram na queda do regime, pretendemos que os aderentes à proposta “Imagens em Liberdade”, construam um conjunto de 6 fotografias através das quais caracterizem em imagens, as palavras e os sons das músicas que escolherem.

Neste projecto, tendo em conta algumas das denominadas conquistas desse acto que culminou na revolução dos cravos de abril, tais como a igualdade, a liberdade e a educação, sob o pretexto da sua produção, promover-se-á o debate, feito à luz dos dias de hoje, que nos encaminhe para uma reflexão aprofundada sobre essas conquistas e esses tempos.

Selecionámos 50 canções gravadas por músicos portugueses nos últimos 50 anos que refletem, seja nas letras ou na própria música, os direitos alcançados pela revolução. Foram seguidos critérios de diversidade de linguagens musicais, contemplando a canção de protesto, a música tradicional portuguesa, o pop/rock, o rap/hip-hop, a música de dança electrónica e o jazz, bem como períodos históricos diferentes, dos anos após a revolução até à actualidade. Tematicamente propomos, de forma bastante aberta para nós e à interpretação da pessoa que fotografa, um conjunto de canções que definimos como políticas no sentido mais abrangente do termo. De canções onde a mensagem política é clara e direta expressando, de forma crítica ou celebratória, os direitos e valores da revolução, a canções onde esses direitos alcançados estão presentes, de forma latente, na sua expressão musical, proporcionando aos participantes margem de liberdade, tanto na escolha da canção como na imagem fotográfica que construírem sobre a mesma.

Inserido no desafio, integra-se ainda um Ciclo de Conversas, feitas a partir da produção das 25 narrativas fotográficas executadas a partir de 50 canções, o que será um excelente pretexto para se estabelecerem diálogos a partir do material produzido e das influências que a música escolhida teve no respectivo resultado e processo autoral, pois as imagens produzidas, terão como base, palavras, sons, textos, vibrações, que nos remetem para memórias e para actos criativos.


REGULAMENTO | LISTA DE CANÇÕES | INSCRIÇÃO


A Imagem-Reflexão

As questões sociais sempre encontraram na imagem um aliado poderoso tanto na reportagem para a denúncia das condições relacionadas com a injustiça, a desigualdade e os direitos humanos, como, no sentido contrário, com finalidades ligadas à propaganda e utilizada pelas diferentes ditaduras para veicular mensagens políticas mais ou menos explícitas. A imagem é, portanto, um “objecto” que, na sua avaliação, requer ser olhado com um espírito crítico informado pelas condições culturais, políticas, e sociais da sua produção. À contenção da fotografia como denúncia durante o Estado Novo, forçada pela censura e pela vigilância da polícia política, sucede a explosão dos meios de comunicação social no pós 25 de Abril de 1974, em que o potencial da imagem nomeadamente anuncia, liberta, informa, designa, incita, congrega, entre outras valências. A reavaliação crítica da imagem em liberdade não deixa de ser uma tarefa fácil atendendo à variedade de propósitos e parâmetros em causa numa sociedade em rápida mutação. É, no entanto, sempre um espelho do tempo e, como tal, matéria de reflexão para a sua compreensão. Celebrar o 25 de Abril cinquenta anos depois dos eventos ocorridos através da imagem e do texto (a partir da música), é ir ao encontro do tema da democracia e da liberdade de um modo forçosamente não documental dos acontecimentos mas a partir dos acontecimentos. E é justamente essa reflexão “a partir de” que nos dá, com o devido distanciamento temporal, o contexto de criatividade do projecto que se permite explorar narrativas diferenciadas e actualizadas para o tempo presente. Não se trata portanto de imagem-documento mas de imagem-reflexão, não só no sentido de resgatar a história do país de um modo criativo, a partir da importância da música de intervenção, mas também o de suscitar pensamento a partir da própria imagem como objecto de exploração semântica e polissémica por outros interlocutores, permitindo a sua reconfiguração baseada em novos enunciados ou campos de caracterização.

José Oliveira, doutorado em História da Arte Contemporânea e investigador integrado do Instituto de História da Arte (FCSH-UNL).